(2) Bons velhos tempos do nosso turismo!

 

“Pan Am Flight 120” a bordo de um Boeing 747-200 – Durante o tempo que durava a viagem de Los Angeles a Londres, os “felizardos” podem desfrutar de todo luxo que era oferecido pela companhia aérea (Divulgação)

Por David Leslie, Colunista

(Divulgação)

É quase certo que, para quem não trabalhava com viagens e turismo nesse período, o texto que relato abaixo venha a provocar severas gargalhadas ao saber que, por volta dos anos de 1961 e 1963, as companhias domésticas de transporte aéreo confiavam estoques de bilhetes-de-passagem (“virgens” / “em branco” e todos devidamente numerados) para agências-de-viagens de sua confiança (agências pré-selecionadas, devidamente cadastradas e previamente treinadas para a função de “validar” estes documentos) permitindo, através desta concessão, que as mesmas viessem a emitir estes bilhetes e vender, aos seus clientes, o transporte entre duas ou mais cidades.
Estes bilhetes “virgens” possuíam diversas vias separadas, umas das outras, com um papel-carbono entre cada via (deixando, desta forma, que o que fosse escrito na primeira-via pudesse passar para as demais que viessem a seguir). As primeiras-vias correspondiam aos “coupons-de-vôo”, isto é: àquelas que iriam servir para autorizar um transporte bem destacado entre duas cidades (isso feito através de um contorno diferente ressaltado em cada via, já que a seqüência do itinerário mostrava o nome, de cada cidade, um abaixo do outro). As vias seguintes, se me lembro bem, estavam reservadas para: uma ao departamento contábil da empresa aérea (dona do documento deixado em confiança), outra para o controle da agência que tinha recebido o bilhete “em branco” e, finalmente, a última-via (que estava impressa na parte interior da contra-capa) para ficar com o próprio passageiro (cujo nome constaria no bilhete-de-passagem em questão) como uma espécie de recibo pela aquisição do documento de viagem. Uma linha entre cada duas cidades, bem elaborada, permitia (em seus “quadrados” ou “casinhas” correspondentes) anotar o dia da viagem, o código de duas letras da companhia que iria efetuar o transporte entre as duas cidades, o número do vôo e, finalmente, o “status” da reserva (isto é: OK para “confirmado”, RQ para “reserva solicitada porém ainda não confirmada” ou, mesmo, a palavra “open” para trechos que ainda permaneciam sem reserva alguma). Nestes bilhetes constavam ainda, além do itinerário a ser voado (trecho por trecho), o valor total da viagem (isto é, do próprio bilhete), o nome do passageiro que iria ser transportado e um espaço apropriado, no canto superior direito (numa “caixa” quadrada com aproximadamente 3.5 cm de cada lado) para que a agência emissora deste bilhete pudesse aplicar o “carimbo” de identificação de sua agência (sobre o qual o “emissor” responsável pelo preenchimento aplicaria a sua rubrica).
O bilhete em si tinha algo (em tamanho aproximado) como 19 cm de largura X uns 8,5 cm de altura. Havia, também, uma folha (de tamanho igual às vias do bilhete) que separava a capa do bilhete da primeira-via, com as “condições gerais” do transporte que iria constar no bilhete (esclarecendo as responsabilidades do transportador e do viajante). A capa do bilhete, desenhada com um cuidadoso bom gosto, apresentava o nome e a logomarca da companhia transportadora, junto com uma ilustração e o seu slogan. A parte interior da capa era, geralmente, ocupada por recomendações tais como: tempo mínimo exigido para o “check-in”, artigos permitidos para serem levados pelo passageiro na cabine, entre outros.
Um funcionário da transportadora visitava a agência, a cada duas semanas (ou a cada semana, nem lembro mais), a fim de retirar a cópia das vias de “contabilidade” (dos bilhetes emitidos até esta data) e para verificar se a seqüência dos números estava correta (assim como se os demais bilhetes continuavam na agência e todos ainda “em branco”). Estas vias iriam servir para que a companhia pudesse “faturar” o valor destes bilhetes à agência (que, por sua vez, conferiria o valor da fatura através das suas vias “agência”) a fim de que esta pudesse pagar a fatura em referência (com vencimento pré-estipulado) descontando a sua merecida comissão de 7% .
Tudo era muito bem coordenado e funcionava com relativa perfeição. A única dificuldade estava reservada à quem tinha que emitir estes bilhetes, pois era preciso ter excelente caligrafia para escrever todos os dados em “letras de forma” aplicando uma intensa pressão sobre a caneta para que todas as vias pudessem ter impecável leitura (lembrando que, naqueles anos, ainda não haviam canetas esferográficas com ponta para escrita fina !).
Coisas de um tempo que ainda viaja na memória. Volto no mês que vem … Até lá!
David Leslie / Autor do livro
Turismo para Leigos e Curiosos
leslie@cbsmarketing.com.br

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